ARVORE DE NATAL NO VATICANO

Dias Lopes

 


Uma enorme árvore de Natal foi erguida no início do mês no coração da Praça de São Pedro, no Vaticano. Mede 34 metros de altura e, como decoração, recebeu 3 mil bolas douradas e prateadas, 1.500 lâmpadas brancas e amarelas, faixas e fitas, além de uma estrela na ponta com luz intermitente. Tem 94 anos de idade, pesa cinco toneladas e, na verdade, é um pinheiro do gênero abier, conhecido por abeto ou abete, originário da Europa e da América do Norte, cultivado no Sudeste e Sul do Brasil para a fabricação do papel. Ficará o mês inteiro ali, sob as vistas do papa Bento XVI, que pode observá-la da janela do seu apartamento. Será desmontada depois do Dia de Reis, 6 de janeiro.
A Igreja Católica foi a última das religiões cristãs a aceitar a árvore como símbolo do Natal. Sua incorporação provocou discussões. Mas a demora tem motivo claro. Às vésperas do solstício de inverno ? quando o Sol atinge a maior distância angular em relação ao plano que passa pela linha do Equador ? os pagãos instalados no nordeste da Europa, sobretudo nos atuais territórios da Lituânia, Letônia e Estônia, iam aos bosques para cortar pinheiros e levá-los inteiros para casa. Enfeitavam-nos com guirlandas, ovos pintados e doces, mais ou menos como fazemos agora. A seguir, festejavam as colheitas do ano, com as quais enfrentariam os duros meses do frio, e adoravam seus deuses. A celebração ocorria em torno dos dias 22 e 23 de dezembro, período do solstício.
A Igreja Católica tentou acabar com essa cerimônia mágica, sem êxito inicial. Então, o papa Júlio I (337?352) teve uma ideia brilhante. Como era impossível fixar a data do nascimento de Jesus, pois nenhum dos 27 livros do Novo Testamento se refere ao fato, ordenou aos cristãos do século 4º que festejassem o Natal a 25 de dezembro. Tomou a decisão amparado em pistas fornecidas pelos textos sagrados, fazendo a celebração cristã ocupar o lugar da festa pagã.
Só a tradição da árvore resistiu, circunscrita aos territórios situados acima do Reno e mais tarde os cristãos capitularam a ela. Foi a população de Riga, capital da Letônia, que montou o primeiro pinheiro para o Natal, em 1510. Dali a tradição alcançou a Alemanha. Segundo Franco Busti e Laura Rapelli, no livro Festeggiamo il Natale (Edizioni Gribaudo, Milão, 2010), "é comprovado que em 1605 já se decoravam árvores na Alsácia para as festas natalinas". Na Inglaterra, a novidade chegou no século 17, quando o duque alemão Ernesto Augusto casou com Sofia, neta do rei Jaime II. Um dos filhos do casal subiu ao trono britânico com o nome de Jorge I e iniciou a casa real de Hannover, da qual fez parte a rainha Vitória, entusiasta da árvore de Natal. 
Confira a receita:

Na convicção pagã, a árvore representava a vida por se enraizar no chão e projetar-se verticalmente. Faria uma ligação simbólica entre a terra e o céu. Hoje, segundo ressaltam os autores de Festeggiamo il Natale, as cores da decoração natalina têm para os católicos profundos significados. "O vermelho simboliza o amor, a paixão, mas também o sacrifício de Cristo", lembram. "O azul evoca o céu e o espírito, além de ser a cor do manto de Maria." O branco lembra a neve do inverno do Natal no Hemisfério Norte, assim como a pureza. O ouro, um dos presentes oferecidos pelos Reis Magos, traduz a sacralidade. O prata se refere à transformação do mundo e do homem pela fé cristã. Já o marrom do tronco evoca a madeira da cruz de Jesus, enquanto o verde representa a esperança de salvação. Na Polônia, um dos primeiros países católicos a adotar a árvore de Natal, a tradição ingressou por influência da Alemanha. Coincidentemente, o primeiro pinheiro na Praça de São Pedro foi mandado instalar em 1982 por João Paulo II, o papa polonês.

FONTE: JORNAL: O ESTADO DE SÃO PAULO 16/12/2010/  - 10:37 DA MANHÃ

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POR QUE JESUS NÃO ESCOLHEU APOSTOLAS OU DISCÍPULAS?

ESPOSA DE CAIM NA TERRA DE NODE E SEUS ENIGMAS

As Confusões do Gregorute - Parte 1